quinta-feira, 18 de agosto de 2011

valeu Adilson!

Um dos principais eventos de Budapeste é o Red Bull Air Race. Consiste em uma corrida de aviões de manobra cujo objetivo é fazer o percurso, determinado este por marcações infláveis (ou air gates), no menor tempo possível. Existem etapas em diversas partes do mundo, inclusive no Rio de Janeiro.

O criador do esporte, o piloto Péter Bésenyei (beshenhiei), é húngaro, o que faz com que Budapeste seja o mais tradicional dos circuitos do campeonato mundial, quase uma Mônaco dos aviões. So que, ao invés de assistir a corrida em seu Ferretti ancorado na marina degustando um Dom Pérignon, aqui assiste-se a corrida no meio do povão tomando aquela cerveja barata mesmo. Isso porquê meio milhão de espectadores, ou 1/4 da cidade, vem assistir à corrida todos os anos, fazendo com que as margens do Danúbio fiquem lotadas.

O percurso se dá entre a famosa Ponte das Correntes (Széchenyi híd)e a Ilha Margit, em frente ao Parlamento e ao Buda Castle. E a largada ocorre com os aviões passando por debaixo da ponte, proporcionando imagens espetaculares como a abaixo.

No entanto, todo o campeonato de 2011 foi cancelado graças as peraltices de um brasileiro. Adilson Kindelmann fez o favor de cair com seu avião ano passado na etapa australiana, fazendo a organização rever as normas de segurança da modalidade. Ninguém tinha se perguntado antes o quão (não) seguro era um esporte radical de acrobacias aéreas em metrópoles superpovoadas até esse brasileiro f.d.p. aparecer.

Por isso mesmo, eu amaldiçoo agradeço ao Adilson por ter resguardado não só a minha integridade física, como também dos demais budapestianos em detrimento de um evento fantástico o qual eu jamais esqueceria.

Abaixo, pode-se ver o que eu vou deixar de ver:

Valeu Adilsão!


sábado, 13 de agosto de 2011

Praga vs. Budapeste

Eis uma clássica disputa turística. Qual destas duas cidades é a menina dos olhos da europa oriental?

Quando nós, não-europeus em geral, nos lembramos daquela europa malvada e ex-comedora de criancinha, essas duas cidades vem à mente como referência idílica desse canto do mundo. Assim, a comparação entre as duas é quase que inevitável.

Sempre que encontro alguém que tenha passado por ambas, faço a pergunta ‘’qual das duas você gostou mais?”, em busca de uma confirmação de que a cidade a qual escolhi para viver é a ganhadora dessa contenda. E as respostas que recebo nem sempre me deixam nessa confiante posição. Ainda bem, afinal, toda unanimidade é burra, não é mesmo?!

Com essa coleção de respostas divergentes, decidi fazer a minha própria cabeça nessa questão e fui-me a Praga passar 2 agradáveis dias. Com o conhecimento empírico adquirido, pude compará-las ao meu gosto, cujo resultado segue abaixo. Tentei ser o mais imparcial e crítico possivel, ainda que a acusação a mim de ser bairrista seja plausível e aceita.

Praga é histórica, Budapeste é autêntica.

Praga é certinha, Budapeste é (bastante) imperfeita.

Praga é conservada, Budapeste é um recorte de ruínas.

Praga é clássica, Budapeste é jovem.

Praga tem o Vltava, Budapeste o Danúbio.

Praga é clean, Budapeste é suja mesmo.

Praga é turística, Budapeste é alternativa.

E, concluindo, a mais importante de todas as comparações: Praga é pra se conhecer, Budapeste é pra se viver.

O relógio:


A estátua:


A cidade:

domingo, 3 de julho de 2011

pengő*

*favor não confundir com Pingu, aquele pinguin de massinha simpático do Glub Glub


Como dono deste blog e economista, me dou a liberdade de compartilhar algo que, provavelmente, só vá interessar a essa mal amada classe profissional. No entanto, você querido leitor que não se enquadra nesse grupo e que já teve sua vida ferrada por alguma medida fiscal/monetária restritiva imposta por um de nós também é bem vindo a ler este post, ainda que as informações a seguir terão impacto zero na sua vida.

Então vamos a aula de numismática:

O pengő foi a moeda utilizada na Hungria entre 1927 e 1946. Após a 2a Grande Guerra, em que, pra variar, os húngaros deram com os burros n’água, começou o maior processo (super-mega-giga) hiperinflacionário da história. Em 1946, começaram a circular notas de (respirem fundo) 1.000.000.000.000.000.000 pengő, ou um quintilhao de pengő (não precisa contar, são 18 zeros), como a abaixo:

Para deixar a coisa mais fácil (ou menos catastrófica), eles criaram uma denotação matemática afim de eliminar tantos zeros nas transações corriqueiras, como “milpengő” e “b-pengő” (bilhão de pengő). Isso tambem ajudava na reutilização de notas, cujos valores desatualizavam constante e rapidamente, e permitido a sua reimpressão.

A economia só foi establizada com a adoção do forint adotada a partir de 1946 e em vigor até hoje. A taxa de conversão foi de 4x10E29 pengő para 1 forint. Na verdade essa conversão era virtual já que todo o dinheiro em circulação da economia hungára em pengő não compraria nem 0,1 forint (lembrando que hoje 0,01 forint equivale hoje a R$ 0,0001). Os caras estavam literalmente fodidos e mal pagos.

Esse recorde nem o Mugabe consegue bater. O Mailson da Nobrega e a Zélia Cardoso de Mello então, são escoteiros crentes perto dos húngaros.

E pra quem falou que jogar dinheiro fora é loucura, olhar a imagem abaixo faz pensar em transformar o país todo em um hospício.

Já até pensei em um nome e slogan:

- Hospício Hungria: segurança e garantia!

Ou então:

- Hospício Hungria: se eu jogasse $$ fora, você me internaria?

domingo, 19 de junho de 2011

“Subiu a construção como se fosse máquina”

Primeiramente, me desculpo por outra referência ao Chico Buarque. Mas entenda, ele é para este blog o equivalente ao que a Glória Perez foi ao meu blog da Índia, salvo as devidas e imensuráveis proporções entre caráter pessoal e feitos profissionais de ambos. Assim como Glória e seu fiel retrato da vida cotidiana dos indianos, com uma estetização legítima da riqueza material daquele povo, diga-se de passagem, o Chico é a referência máxima brasileira a Budapeste. O seu livro, criativamente intitulado ‘’Budapeste’’, é praticamente uma estrela guia para os visitantes incautos por esta essa cidade.

Mas eu divago...

Voltando ao assunto que motiva este post, Budapeste parece um grande canteiro de obras. Verdade seja dita, a cidade está caindo aos pedaços. No entanto, esse ‘’que’’ de ruína urbana é um dos fatores essenciais ao charme da cidade. E, como ja á apontei antes, Budapeste é tipo uma Sofia Loren: velha sim, mas ainda cheia de ecantos.

Com a construção da linha 4 do metrô, a cidade esta uma zona. Mas as obras se extendem também por parques, igrejas, pontes, etc, tornando a locomoção nessas áreas um tanto quanto caótica. Isso sem falar nos desvios estéticos provocados pelas máquinas e entulhos espalhados pela cidade. Dá uma baita pena andar naquela avenidas históricas cobertas com tapumes e redes de proteção verde.

Como tudo na vida tem dois lados, a boa notícia é que a nova linha do metrô vai passar do lado de casa. A má é que vai demorar mais uns 4 anos para as obras terminarem e, até lá, Budapeste estará no meu passado. Pelo menos vai ficar pronto antes do Itaquerão...

‘’Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico’’

Desculpem, não resisto.


*update: meu karma ruim continua a me perseguir. Adivinha qual novela brasileira está passando na tv húngara??? Dica: não é Escrava Isaura. Sim, claro, Caminho das Índias!!! Arebaba, tô achando que no final das contas eu deveria ter largado de frescura ocidental e ter me purificado no Ganges...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

o húngaro de Guimarães Rosa

Eu sei que já fiz um post exclusivamente destinado a apontar a impossibilidade da língua húngara ser professada por qualquer estrangeiro dada a sua complexidade, estranheza e ininteligibilidade (rááá, agora quero ver algum húngaro falar essa última palavra! Doce vingança...)

No entanto, há pouco chegou a meu conhecimento um livro chamado Antologia do Conto Húngaro escrito por Paulo Rónai, falecido escritor nascido na Hungria e radicado no Brasil. O livro traz uma seleção de contos de escritores húngaros traduzidos para o português. Não tive a oportunidade de lê-lo até mesmo porquê creio que seja um tanto quanto difícil encontrá-lo por aqui em se tratando de um livro em português.

Mas o que chama a atenção desse livro é seu prefácio escrito pelo James Joyce tupiniquin, Guimarães Rosa. Inteligente pra dedéu, ele estudou um catatau de línguas.

Falava, segundo o próprio: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo. Lia sueco, holandês, latim e um pouco de grego. Entendia alguns dialetos alemães e tinha estudado a gramática do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês e do dinamarquês. É mole?

Bom, no supracitado prefácio, Guimarães Rosa se derrete em elogios ao idioma magiar. Vai aqui a transcrição. É grande e complicada, eu até pensei em encurtá-la, editá-la, mas cheguei à conclusão que seria uma falta de respeito, para dizer o mínimo, em se tratando de um texto tão fodásticamente articulado por um escritor tão fodásticamente foda:

“Disse já que o húngaro, por seu rico registro de vogais - que a caracterizam imediatamente - e da prevalência das claras sobre as surdas, dá-se como uma das línguas mais sonoras, musicais, em seu vozeio. Sonorosa, se bem que de ritmo fundamental muito enérgico, nela as seqüências de inflexões naturalmente modulam e fácil melodiam. De si concretizante, figurativa, imagista, encerra copiosa quantidade de onomatopéias. Sua gramática, parca, põe garra mais curta que a da emoção. Suas palavras nem sempre se fecham na racional fixidez conceitual explícita, na rigidez denotativa, antes guardam sob o significado uma ativa carga potencial, rudimentar, com o que, nos diversos momentos, inteiram-se mais variadamente de sentido, e, segundo as soluções rítmicas, se reembebem de um halo vivaz. Será, se dizer posso, uma língua menos ‘da lei’ que ‘da graça’; uma língua para homens muito objetivos, ou para poetas. Nem não é tudo. Também, e o quanto ninguém imagina, é uma língua in opere, fabulosamente em movimento, fabril, incoagulável, velozmente evolutiva, toda possibilidades, como se estivesse sempre em estado nascente, apta avante, revoltosa. Sem desfigurar-se, como um prestante e moderno mecanismo, todo tratável, ela aceita quaisquer aperfeiçoamentos estruturais e instrumentais, que, nas exaltadas arremetidas criadoras de uma experimentação contínua, os escritores lhe infligem, segundo as mais sutis ou volumosas intenções. Suas partes obedecem à arte. Deste ponto-de-vista, nenhuma outra haverá tão plástica e colaborante, sem inércia. Por sua própria natureza original, permite todas as caprichosas e ousadas manipulações da gênese inventiva individual. Praticamente ilimitada é a criação de neologismos, o verbum confingere. O intercambiar dos sufixos e das partículas verbais é universal: os radicais aí estão, à espera de um qualquer afixo, como os forames de um painel de mesa-telefônica, para os engates ad libitum. Possível, mesmo, é a engendra de sufixos novos, partindo de terminações singulares ou peregrinas de vocábulos. Vale é o valível. Imissões adúlteras não são ilegítimas. A seiva arcaica se redestila. Absorvem-se os ruralismos. Recapturam-se as esquivas florações da gíria. Entre si, as palavras armam um fecundo comércio. Molgável, moldável, digerente assim - e não me refiro em espécie só à língua literária - ,ela mesma se ultrapassa; como a arte deve ser, como é o espírito humano: faz e refaz suas formas. Sem cessar, dia a dia, cedendo à constante pressão da vida e da cultura, vai se desenrolando, se destorce, se enforja e forja, maleia-se, faz mó do monótono, vira dinâmica, vira agente, foge à esclerose torpe dos lugares comuns, escapa à viscosidade, à sonolência, à indigência; não se estatela. Seus escritores não deixam. Os felizes escritores húngaros usam e mais usam da tratabilidade daquele esquematismo opulento, de um aparelho de tanta liberdade. E não o praticam apenas nos casos de necessidade elementar, conforme o ‘Sunt novis rebus nova ponenda nomina’ ciceroniano. Nesse contínuo operatório, querem não menos as operações estéticas fantasistas. O que eles buscam, às inspirações, toda-a-vida, é a máxima expressividade, a mais ponta para penetrar a matéria; o jogo eficaz. São todos individualistas. Desde que o entenda, cada um pode e deseja criar sua ‘língua’ própria, seu vocabulário e sintaxe, seu ser escrito. Mais do que isso: cada escritor húngaro, na prática, quase que não pode deixar de ter essa língua própria, pessoal. O alcance disso é mágico. Com isso, está o espírito geral da gente, que ele invoca. E essa é tendência que não arrefece. Cada jornal, em Budapeste, é escrito em seu dialeto ‘da casa’, às vezes fora da linguagem culta corrente - diz Laczkó Géza; e ajunta: ‘Na vida de sociedade húngara não basta ter-se espírito; mas a forma lingüística do dito espirituoso tem também de ser espirituosa’. Será que - como se fosse ainda o guerreiro em movimento ou solitário pastor, nas estepes antigas do Pamir ou, depois, onde volga o Volga e dona o Don - em o versar de seu idioma o magiar ficou sempre nômade.”

Guima ainda dá uns exemplos de flexões com palavras húngaras, como o que se segue. Sente o drama:

megengedhetetlen: inadmissível. (minha palavra favorita em húngaro)
megengedhetetlenebb: mais inadmissível.
legmegengedhetetlenebb: o mais inadmissível.
legeslegmegengedhetetlenebb: o mais inadmissível de todos.
legeslegmegengedhetetlenebbekkel: com os mais inadmissíveis de todos.

E, finalmente, minha citação favorita dele em referência ao húngaro:

“(...) contam que Carlos V, que desde muito menino teve de estudar uma porção de idiomas, por quantas terras e povos em que reinar, costumava dizer que: o espanhol era para se falar com os reis, o italiano com a mulher amada, o francês com o amigo, o holandês com os serviçais, o alemão com os soldados, o latim com Deus, o húngaro... com o diabo.”

Nisso, ele parece concordar com o Chico Buarque. É um negócio de diabo pra cá, diabo pra lá, cheiro de enxofre nos banhos turcos que eu já to ficando com medo...

sábado, 21 de maio de 2011

burning man


A foto acima foi a vencedora do World Press Photo Contest 2011, o maior prêmio de fotografia de imprensa do mundo. A foto, tirada por Péter Lakatos, flagra o momento em que um homem, não obstante em atear fogo a si mesmo, ainda pula da ponte Szabadság (sóbódshag) para o rio Danúbio. Os motivos pelos quais o homem cometeu suicídio não são conhecidos.

Ah, sim, um detalhe: essa ponte fica na minha rua a uns 250 metros da porta do meu prédio. Das 7 pontes da cidade, não por acaso é a minha favorita. Abaixo, pode-se vê-la sem quando não há lunáticos suicidas praticando saltos ornamentais:

Moral da estória: meu apartmento é uma porcaria, mas fica num lugar lindão!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

sigo incendiando bem contente e feliz

Budapeste é uma cidade com uma vida cultural/boêmia incrível. Há sempre o que se fazer, coisas a se ver, concertos de todo o tipo, restaurantes ótimos e tudo a preços acessíveis. Até as baladas são quase sempre gratuitas e, quando não o são, o preço da entrada dificilmente ultrapassa os dé real que você pagaria pro flanelinha no Brasil.

No entanto, tudo tem seu lado negativo. Na Hungria, isso se traduz na maldita fumaça de cigarro que permeia todos os estabelecimentos comerciais. Aqui não dá pra entrar em um lugar e esperar que o cheirinho de lavanda do seu amaciante continue por muito tempo na sua roupa. E você, detestavelmente, acaba por se tornar um fumante passivo crônico.

Na europa, o número de fumantes é bem maior do que no Brasil (algo em torno de 16%). Na Hungria isso é ainda agravado pelo fato de que o cigarro é muito mais barato do que se comparado aos demais países da União Européia, chegando o percentual de fumantes a 50% entre os homens.

Ouvi dizer que tentaram fazer um lei à-la-Serra por aqui, mas que não vingou. Ao invés, a partir de janeiro passou a vigorar uma outra lei em que fica proibido fumar nos pontos de ônibus/tram que, por sinal são ao ar livre (?!?!). Fumar em ambiente fechado com teto baixinho tudo bem, mas no ponto na rua não. Se alguem entender a lógica, por favor me explique.

Então, o que fazer? Talvez achar algum político chato de galocha pra fazer essa lei passar, tipo o Serra mesmo... Nossa! Como pude dizer isso??? Deve ser a raiva falando mais alto... Mas, pensando bem, não seria má idéia. Exportar o Serra pra Hungria seria sem dúvida uma benesse para o Brasil. Fora isso, ele ficaria pertinho da Transilvânia, sua terra natal.

Creio que essa é uma iniciativa válida na qual todos sairiam ganhando, à exceção dos húngaros. Mas, por favor, esperem eu voltar para o Brasil. Ainda prefiro aspirar alcatrão do que correr o risco de trombar com o Serra na rua...

Ajude a acabar com o ostracismo político do nosso amigo Serra. Vamos mandar ele pra Hungria ou pra Transilvânia, o que dá na mesma, já que pros nacionalistas húngaros é tudo a mesma merda. Adira a essa campanha!