segunda-feira, 25 de abril de 2011

o carro na frente dos bois

Parece que os húngaros estão em uma competição pra ver o quão mais diferente é a sociedade deles das demais. Fala sério, pra que fazer que nem todo o resto do mundo civilizado? É demasiado chato. Por exemplo, pra que ter um nome e sobrenome, assim, simples, fácil? Não, não, não, os húngaros tem que inventar moda.

Sendo assim, os nomes húngaros vêm ao contrário. O primeiro nome é, na verdade, o sobrenome, e o segundo nome é o nome próprio. Sendo assim, Fulano Detal aqui é Detal Fulano. Num exemplo prático, João da Silva se transforma em Kovács (Silva) János (João), pronunciados Côvatch Iánosh. Se o nome de solteira da esposa do João for Szabó Erszébet, ela pode adotar o nome Kovácsné Szabó Erszébet, e por aí vai.

Até aí tudo bem (ou não). O problema é que alguns húngaros decidiram adotar informalmente a formação utilizada pelos outros países. E como os nomes são, em muitos casos, bem bizarros distintos daqueles com os quais estamos acostumados, fica difícil saber o que é nome e o que é sobrenome, quem tem nome ao contrário e quem não tem. Ou seja, é uma zona.

Entendeu? É, eu também não.


Ass: Krósztá Vilmos

E olha que meu nome em húngaro é o nome de uma famosa marca de pálinka, a aguardente local. Coincidência?!

sábado, 16 de abril de 2011

cso csó

Futebol na Hungria tem um rei e não é o Pelé, “entende”. Ele é baixinho, mas também não é o Romário. Ferenc Puskás (Fêrents Pushkash) é, provavelmente, um dos 5 melhores jogadores da história desse esporte e tem o maior número de gols por jogo de todos os tempos. Ele comandou o (quase) imbatível time húngaro da primeira metade dos anos 50 que, na copa de 54, além de dar uma surra no Brasil, por muito, mas muito pouco não levou o caneco pra casa. No entanto, depois da revolução comunista de 56, muitos dos jogadores, incluindo o próprio Puskás, abandonaram o país, abrindo caminho pro Brasil se tornar campeão em 58 e deixando a Hungria no limbo futebolístico em que se encontra até hoje.

Seja para compensar esta frustração, seja por um complexo de inferioridade histórico, eles decidiram diminuir as linhas do campo, a bola e os jogadores e adotaram o pebolim, ou totó, como esporte nacional. Parece brincadeira, mas é sério.

Em um primeiro momento você pode até achar que a paixão esportiva deles é o futebol de verdade ou até mesmo pólo aquático. Pura ilusão. É o pebolim mesmo. TODO bar tem uma mesa com um monte de viciado jogando, e olha que o que não falta aqui é bar. E não é aquele jogo fluído com roleta, bola quicando a todo momento, não. É todo cheio de técnica, fintinha, firula, um tédio. Domínio-finta-gol. Domínio-finta-gol. Para um zero à esquerda no pebolim como eu (seria um munheca-de-pau?), não dá a menor graça jogar com os nativos, eu nem vejo a cor de bolinha. Domínio-finta-gol. Puts, perdi de zero de novo. Sorte que aqui não precisa passar por debaixo da mesa.

Inconformado com a verdade factual exibida nas mesas de pebolim e esperançoso que ainda deveria haver alguma salvação a este povo pagão, resolvi conferir in loco a catástrofe futebolística que assola este país há tantos anos. Lá fui eu ao estádio ver o jogo entre Hungria e Holanda. Acabei descobrindo que a tal catástrofe está mais para praga bíblica. PelamordeDeus. O time de várzea do campinho atrás do terminal de Barão é melhor que a seleção húngara. O frangeiro goleiro deve estar procurando a bola do primeiro gol até agora. Os holandeses passearam com um fácil 4x0. Na verdade, isso representa uma evolução em relação ao jogo ocorrido alguns meses atrás, um humilhante 6x1. Ainda há uma luz no fim do túnel, ainda que seja fraca, opaca, em desvanecimento.

Bom, pelo menos eles podem dizer que são bons no futebol, ainda que em miniatura.

Reparem no uso da canela para o domínio de bola. Quanta finesse, quanta categoria!

*update: a luz parece estar ficando mais intensa. No jogo de volta, em Amsterdam, a Hungria fez 3(!) gols na laranjada, mais do que nossa seleção canarinho na Copa do Mundo da África. Só que a Holanda fez 5. É, não foi dessa vez...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

uma breve história da Hungria*

*ou "como resumir a história milenar de um país em 5 parágrafos"

Era uma vez uma linda planície no meio da Europa. Muita gente gostava de passar um verão pra pegar um bronzeado nesse lugar: romanos, eslavos, hunos, mongóis. Mas os magiares, que vinham da sibéria e eram mais pálidos, gostavam mais ainda do que todos os outros povos e teimaram em ficar por lá, formando um reino que durou quase mil anos.


Mas essa atitude de a-bola-é-minha-e-não-brinco-mais não agradou muito aos Otomanos que resolveram invadir a parada. Para não se ferrarem de vez, os húngaros pediram a ajuda do Schwarzenegger e viraram quintalzinho da Áustria pelos 400 anos seguintes, formando, mais tarde, o Império Austro-Húngaro. Este, por sinal, consistia basicamente nos austríacos mandando e os húngaros obedecendo .

Na 1ª Guerra Mundial o Império Austro-Húngaro escolheu o lado perdedor e sifu. Os húngaros, cansados de serem levados pelo buraco pela Áustria, resolvem se separar. Mal viraram um país independente e já perdem 70% do território e, consequentemente, da população para Romênia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, o que fez eles pararem, pensarem, respirarem fundo e dizerem: “FODEU”.

Entra uma ditadura facista e eles escolhem, de novo, o lado perdedor para apoiar na Guerra Mundial-Parte 2, ficando aliados do bigodinho. Cercados pelo Exército Vermelho, os húngaros não tiveram muita opção e foram ocupados pelos soviéticos pelos próximos 10 anos.

Na Revolução de 56, eles bem que tentaram se livrar dos russos, mas estes mataram todos os revolucionários e colocaram um governo pró-vodka até 1989 quando, finalmente, os húngaros puderam passar a saborear toda a gordura trans de um Big Mac capitalista. Hoje em dia a Hungria é uma força econômica no Leste Europeu, membro da União Européia e grande exportador de alimentos, carros e atores pornôs.


Hobsbawn, morda-se de inveja com meu poder de síntese da história húngara!