quinta-feira, 31 de março de 2011

a língua que o diabo respeita

É assim que Chico Buarque define o idioma húngaro. Pra mim, o diabo também fala húngaro, afinal é uma língua que dá medo só de ouvir. Mesmo o nome do país na língua local ja é bem arretado: Magyarország (pronuncia-se módjór-orssag).

Para os que tem preguiça de abrir a enciclopédia, nem que seja a wiki, o húngaro é uma língua urálica trazida pelos magyares da região dos montes urais na atual Rússia. Ela é distantemente aparentada do finlandês e do estoniano e não é parecida com nenhuma delas nem nenhum outro idioma conhecido pelos terráqueos. Em poucas palavras, é um misto de nada com coisa alguma e entender qualquer coisa é difícil pra cacete.



Como exemplo, segue a tradução para o húngaro das sábias palavras do grande poeta baiano Cumpádi Washington:

Pt - "Pau que nasce torto nunca se endireita"

Hu - "Ha valami görbe botként születik soha nem fog kiegyenesedni"


Faremos ainda um outro exercício. Vamos pegar uma palavra universal tipo “polícia” em várias línguas e compará-las:
  • Tcheco: Policie
  • Basco: Polizia
  • Finlandês: Poliisi
  • Croata: Policija
  • Romeno: Poliție
  • Húngaro: Rendőrség

Pois é, esse é o meu drama de todo dia. Se eu tiver que ir pra farmácia, tenho que procurar o "Gyógyszertár". Tentar lembrar o nome das coisas aqui é dureza...

Mas gostaria de deixar registrado como eu vejo (e ouço e leio) o idioma húngaro. Para mim, a melhor maneira de definir o que é esta sopa de letrinhas é compará-la justamente a uma... sopa! Portanto, vamos a receita:

Para o falado:

- 2 colheres de sopa de finlandês (afinal se merecem parecem)

- ½ xicara de chinês nos sons anasalados

- 150g de turco

- um dente de russo (principalmente nos ‘’erres’’)

- Palavras longas e complicadas a gosto

Para o escrito:

- 3L de acentos estranhos tipo ű, ö, ő, além daqueles com os quais ja estamos acostumados em português e de preferência vários na mesma palavra

- Quilos e quilos de letras conjugadas tipo dzs, cs, zs, sz, gy, ny, ty cada qual com um som distinto e totalmente diferente do que você acharia que soariam

Modo de preparo:

Junte tudo, mexa bem e tente tirar qualquer coisa de dentro que faça sentido.


E como não há nada mais legal do que aprender falsos cognatos em línguas bizarras, mando alguns do húngaro:
  • Bunda (bunda) – casaco de pele
  • Kurva (curva) – profissional do sexo
  • Piroska (piroshca) – chapeuzinho vermelho
  • Bacáts tér (bocate têr) - o nome de uma praça perto de casa
  • Puszi (pussi) – beijinho de rosto
  • Fiúk (fiuc) - garotos (hummm, bem que eu ja desconfiava dele...)

Então senhoras, não se esqueçam da bunda no armário. Lá fora ta fazendo um frio...

sziasztok!

Sejam bem-vindos ao meu humilde blog.

O objetivo deste pequeno espaço é compartilhar experiências, opiniões, críticas, curiosidades, ou só besteiras durante o tempo em que eu estiver em Budapeste. Este blog assim como seu dono, vai passar perrengue por causa do frio, se perder em ruas de nomes confusos por falta de um senso de direção aguçado, pegar metro velho com risco de contrair tétano e se sentir frustrado por conseguir falar nem um “meu nome é” em húngaro. E você, caro visitante, vai ficar aí, lendo de camarote.

Sim, legal, mas como diabos vim parar na Hungria? Bom, depois de 4 anos estudando economia, juntei minha trouxinha e decidi me vender ao Kapital. Dessa forma arranjei um estágio durante um ano na Nokia em Budapeste, por intermédio da onipresente Aiesec.

Não tardei a descobrir que vender minha mais-valia por um salário de estagiário não é lá dos negócios mais lucrativos a um recém-formado, ainda mais em um país ex-comunista com uma moeda desvalorizada. Marx tinha razão, afinal. Porém, contudo, entretando e todavia, o saldo final é mais do que positivo (se é que isso é possível) por um simples e único motivo: eu estou morando em Budapeste!

Viver aqui é uma experiência fantástica. Cidade lindíssima e fácil de se locomover, tem todas as facilidades de um capital européia a preços acessíveis. É uma metropole jovem, alternativa, cheia de atividades, aonde só fica em casa bundando quem quer. Tem aspectos negativos, é claro, como o idioma espinhoso e o frio temperado do inverno. Mas como pra tudo na vida tem remédio, os húngaros falam (relativamente) bem inglês e, ao que dizem, o verão é quente pra burro. Ou, como já dizia meu amigo Brian, "always look on the bright side of life". Afinal, este vai ser (e já está sendo) um ano ótimo. Obrigado por partilha-lo comigo.

E aproveitando, eu apresento a verdadeira Rapsódia Húngara, de Ferenc Liszt, interpretada por Tom Cat & Jerry Mouse: